Por Carlos Cruz | Imagens: Divulgação
Desde que se instalou no país, a pandemia de Covid-19 tem ocasionado uma quantidade incalculável de mudanças, tudo de forma rápida e sem precedentes. E essas mudanças não estão acontecendo somente na forma como as pessoas lidam com questões de higiene e saúde, mas também nos campos social, econômico e, principalmente, tecnológico.
Se por um lado alguns setores têm sofrido impactos bastante negativos devido à crise sanitária, outros encontraram uma mina de ouro a ser explorada, como foi o caso, por exemplo, dos cursos on-line, da telemedicina, dos serviços de streaming e também do e-commerce, entre outros.
Existem hoje cerca de 16,89 milhões de sites ativos no país, um número 53,68% maior do que o registrado há 5 anos. Uma pesquisa promovida pelo Comitê Gestor da Internet do Brasil revelou que, em 2020, o país chegou a 152 milhões de usuários de sites, o que significa que 81% da população com mais de 10 anos tem internet em casa. “Hoje, a internet se tornou um grande canal de venda para empresas”, avalia o publicitário e colunista da Revista da Anicer, Gabriel Medeiros. “A rede social cria uma sensação de ‘comunidade’ entre marca e consumidor, e ali você pode conversar, interagir e influenciar o potencial comprador do seu produto ou serviço”, garante.
E se engana quem pensa que isso tudo é apenas uma onda passageira e que logo as coisas voltarão ao normal. De acordo com uma projeção da Ebit | Nielsen, o e-commerce brasileiro terá um crescimento de 26% em 2021 e suas transações poderão faturar algo em torno dos R$ 110 bilhões, com um aumento de 16% no número de pedidos e de 9% no valor médio das vendas.
Capital humano será mais importante que a tecnologia
A Pesquisa de Tendências em Comunicação “O que Esperar da Comunicação Organizacional em 2021”, elaborada pela Associação Brasileira de Comunicação Empresarial (Aberje), identificou um forte movimento por parte das empresas brasileiras no sentido de investir em profissionais de comunicação especializados em redes sociais, seja com equipes próprias ou serviços terceirizados.
A rede social cria uma sensação de ‘comunidade’ entre marca e consumidor, e ali você pode conversar, interagir e influenciar o potencial comprador do seu produto ou serviço.
Gabriel Medeiros
Segundo a pesquisa, em relação a estratégias de comunicação para os próximos três anos, os investimentos mais altos serão em LinkedIn (44%), Instagram (43%), WhatsApp (39%) e YouTube (34%).
Os resultados demonstraram que os canais mais utilizados para a comunicação com o público de interesse das empresas participantes são as Mídias Sociais (85%), tornando um dos processos de atuação mais abrangidos pelas áreas de Comunicação dos entrevistados, ou seja, representa 78% das ações divididas entre os canais já citados e incluindo também o Facebook, este com uma atuação menor, porém não menos relevante.
Setor de cerâmica vermelha investe em redes sociais
Há pelo menos 10 anos, o Grupo Tavares, dono da Ceará Cerâmica, vem investindo em redes sociais e acreditando que esse é o caminho para interagir com o público. “Nós temos o Facebook com o maior número de seguidores, são sete mil”, comemora Marcelo Tavares, diretor da empresa, que também investe no Instagram e no YouTube.
Com o Facebook em desuso, o foco do Grupo Tavares tem pesado mais para o seu canal no Instagram, que é dividido em duas partes: uma para telhas e blocos cerâmicos e outra para a linha de produtos decorativos da empresa, como jardim vertical e cobogós.
Para cuidar das redes sociais, Marcelo conta que, inicialmente, a empresa contava com os serviços de uma agência contratada para fazer todo o serviço. Depois, a agência foi substituída por um estagiário que ficou responsável pelas postagens, mas há algum tempo a empresa chamou a agência de volta. “Muitas vezes eu mesmo faço as postagens e publico as fotos. Atualmente, eu estou com um designer e eu mesmo bato as fotos, peço alguma coisa e ele colabora”, disse.
Com relação ao investimento feito nessa área, ele prefere não revelar os valores, mas garante que não é muito. Apesar do número considerável de seguidores, Marcelo conta que é muito “pé no chão” quando o assunto é redes sociais para as empresas de cerâmica vermelha. Para ele, as postagens em redes sociais ajudam muito no engajamento da marca e na interação com os clientes. Mas com relação a vendas, elas são mais eficazes quando a negociação acontece entre a empresa e o cliente final, que não é bem o caso da cerâmica vermelha. “Nós temos um produto bem específico, de venda técnica. Para a linha decorativa, eu acho que tem uma interação muito boa, porque as pessoas acham, procuram, fazem orçamentos, os arquitetos procuram”, destaca. “Mas para o produto em si [blocos e telhas cerâmicas] ele não tem tanto retorno. As pessoas vêm, perguntam o preço e às vezes querem comprar pequenas quantidades que a cerâmica não vende. Isso aí quem vende é a revenda”, explica Tavares.
Mas quando o assunto é WhatsApp, aí é história é outra. De acordo com Marcelo, as vendas da cerâmica atualmente funcionam muito através do app. “Pedidos, orçamentos, venda, endereço, contato com a localização. Todos os canais de venda estão sendo revolucionados pelo WhatsApp”, comemora o diretor. “Realmente hoje a gente vende muito pelo WhatsApp. Às vezes, nem dá tempo de responder”.
Realmente hoje a gente vende muito pelo WhatsApp.
Às vezes, nem dá tempo de responder.
Marcelo Tavares
Marcelo conta que o aplicativo também é um excelente canal de pós-venda. “A gente recebe muitos vídeos com elogios, do tipo ‘o tijolo chegou muito bom, no padrão, na hora’”. A solução foi deixar a linha exclusiva para venda e pegar uma nova linha para tratar dos assuntos da empresa.
Representante da Cerâmica Porto Velho, Samuel Assis concorda com Tavares. A empresa, localizada no município de Vassouras, no Rio de Janeiro, investiu por dois anos em uma agência para cuidar das redes sociais, mas desistiu do investimento quando percebeu que não estava tendo tanto retorno e decidiu internalizar o serviço. Quanto ao WhatsApp, este tem um lugar de destaque na Porto Velho. “Hoje, 95% das nossas vendas são feitas via WhatsApp, além do relacionamento e do contato direto dos vendedores com os clientes”, revela. A empresa também utiliza o e-mail para a formalização de contratos.
Localizada no município de Santa Cruz da Conceição, em São Paulo, a Cerâmica Barrobello não utiliza as redes sociais como e-commerce com geração de pedidos on-line, mas como canais de primeiro contato, onde os pedidos são rapidamente convertidos em contato direto com os vendedores. “Usamos todos os nossos canais de contato com intuito final de vendas, mas também focados em rápido atendimento aos clientes, criação de conteúdos relevantes para o nosso público-alvo e materiais explicativos de rápido entendimento para possíveis dúvidas dos produtos, logísticas e ou aplicações dos mesmos”, revela André Fantinato, gerente comercial da empresa.
De acordo com o executivo, por serem canais onde é possível uma rápida comunicação com os clientes, com baixo investimento e alto alcance, a empresa os usa para fortalecimento de marca, além de tirar dúvidas dos clientes e orientá-los frente a possíveis dificuldades e problemas que aconteçam nas obras, fortalecendo a relação com o público.
“Dentre os canais, temos site com chat e WhatsApp direto, além de Instagram, Facebook, YouTube e LinkedIn”, pontua. “Usamos pra expor novidades em nossas linhas de produtos, materiais de Marketing, campanhas, novidades gerais, bastidores de nossa indústria e processo produtivo, inclusão de vídeos institucionais, obras, revendas, depoimentos de clientes, vagas de emprego, atualização de normas técnicas, dicas, entre outras coisas”, explica Fantinato.
No fundo, a pandemia acelerou o processo de transformação digital que já vinha ocorrendo há alguns anos. Para o futuro, tudo pode acontecer. Mas com uma coisa todos os especialistas concordam: quem não se adaptar a essa nova realidade vai ficar para trás.
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