Hoje é:18 de maio de 2024

Setor da construção civil enfrenta bem as crises sanitária e econômica

De acordo com presidentes de sindicatos de cerâmica vermelha, a maioria dos estados brasileiros seguem com números positivos

Por Carlos Cruz | Imagens: Anicer

Ao contrário de diversos outros setores da economia que vêm enfrentando sérias dificuldades devido à pandemia de Covid-19, a construção civil tem mantido seus números positivos desde o início da crise sanitária. No mês de outubro, o total de novos postos de trabalho abertos pelo setor foi de 24.513, conforme dados do Novo Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Novo Caged).

Este é o nono mês consecutivo de resultados positivos no mercado de trabalho formal da construção civil. De janeiro a agosto, o acumulado já é de 261.531 novos empregos, que é a diferença entre trabalhadores admitidos e desligados.

De acordo com especialistas, isso acontece porque há mais pessoas interessadas em comprar um imóvel próprio, o que tem levado as empresas a investir mais na construção de novos edifícios e, consequentemente, aquecido a indústria de cerâmica vermelha.

De acordo com a Câmara Brasileira da Indústria da Construção (Cbic), em 2020 as vendas de unidades residenciais novas cresceram 9,8% no Brasil. Para este ano, as previsões são de crescimento entre 5% e 10% diante de uma alta de 3% do PIB.

Números tão otimistas confirmam a expectativa de aumento no número de contratações de mão-de-obra para o setor, principalmente no estado de São Paulo, onde são esperadas milhares de oportunidades em obras públicas, como a extensão de algumas linhas de metrô, que devem abrir mais de 20 mil novas vagas de empregos diretos e indiretos.

Outros estados também estão gradativamente oferecendo vagas para atrair a mão-de-obra, como Minas Gerais (4.851), Rio de Janeiro (2.249), Pará (2.206), Ceará (1.858), Santa Catarina (1.663), Bahia (1.550), Goiás (1.451), Maranhão (1.319) e Rio Grande do Sul (1.100). Entre as oportunidades, destaque para os cargos de engenheiro civil, arquiteto, técnico em edificação, mestre de obras, pedreiro e assistente de pedreiro.

O aumento gradativo das vendas também confirma a retomada da economia

“O mercado está normalizando, as empresas já estão sem estoques, mas já está na hora de começar a pensar em regular o mercado para a sustentabilidade de preços”, disse o presidente do Sindicercon/SP, Walter Ximenes.

Presidentes de outros sindicatos e associações do estado também comemoraram o aquecimento das vendas, mas alertaram para os estoques insuficientes para a demanda. Com isso, novas contratações devem acontecer nos próximos meses.

Na opinião do presidente da Anicer, Natel Moraes, o mercado está se recuperando e gerando um novo movimento que impacta diretamente o setor de cerâmica vermelha. “Precisamos ficar atentos e pensar estrategicamente, sempre levando em consideração o médio e longo prazo”, alertou o presidente em um vídeo publicado recentemente nas redes sociais da associação.

Moraes também chamou a atenção para os riscos de se tomar decisões precipitadas, não somente pela sobrevivência das cerâmicas, mas também pelo avanço do segmento e da indústria brasileira. “Eu tenho um exemplo claro, que se parássemos hoje a produção de uma hora pra outra, isso ia gerar uma escassez absurda e haveria o aumento de preços. Mas por outro lado, isso afetaria negativamente o mercado, que acabaria tendo que buscar outras alternativas, enfraquecendo o nosso setor. Da mesma maneira, se produzimos de forma muito exagerada, mais do que o mercado é capaz de absorver, nós derrubamos o preço, tornando a nossa própria indústria insustentável. Então é hora de pensarmos estrategicamente para evitar a escassez e o excesso de produção do mercado”, pontuou Moraes.

O setor de máquinas e equipamentos também tem motivos para comemorar. Segundo balanço da Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq), a receita líquida do setor registrou crescimento de 16,7% em agosto, na comparação com julho. A melhora foi sentida tanto nas receitas internas (15,8%) como nas exportações (19,4%). Na comparação com o mesmo mês de 2020, houve crescimento de 25,6% da receita, sendo que as exportações cresceram 78,4% no período e a receita interna aumentou 23,6%.

De acordo com a entidade, o crescimento de agosto elevou as exportações ao patamar pré-crise, experimentado em 2019. Para a Abimaq, o maior responsável pelo impulsionamento do setor foi o mercado externo. “Os números recentes indicam que o recrudescimento da pandemia da covid-19, em algumas regiões do globo, em razão da maior infecciosidade da variante delta, não prejudicou a vendas de máquinas no exterior”, divulgou a associação.

No entanto, nem tudo são flores. E como era de se prever, alguns problemas causados pela pandemia de Covid-19 estão afetando – ainda que em menor grau – o setor de construção civil, como é o caso da alta nos preços de materiais, que subiram 34,18% nos últimos 12 meses.

O impacto foi bastante sentido pelos ceramistas, que tiveram que desembolsar quantias bem maiores que nos anos anteriores para a manutenção das máquinas e aquisição de novos equipamentos. A informação foi passada pelo presidente da Associação Nacional dos Fabricantes de Máquinas e Equipamentos para a Indústria Cerâmica – Anfamec, Agnaldo Bertan. “O ano de 2021 foi muito bom de volume de vendas de máquinas e equipamentos para as cerâmicas. Porém, como a virada de recessão para alta demanda pegou todos de surpresa, houve euforia no mercado de aço e componentes mecânicos e elétricos, gerando atrasos dos fornecedores junto de preços abusivos, o que comprometeu também nossos prazos de entrega e nossa lucratividade”, declarou Bertan. Segundo o executivo, a mão de obra também foi um grande entrave para a economia do setor, devido aos afastamentos pela Covid-19.

Expectativa para 2022

Para o diretor de Relações Institucionais da Anicer, Jorge Lopes, projetar um cenário para 2022 diante do ambiente de instabilidade econômica e política que o país está vivendo não é uma tarefa fácil. “Sempre recomendo que as empresas procurem as entidades de classe, como a Confederação das Indústrias e o Sebrae, através de seus departamentos e consultores, para se ter uma ideia do que esperar para os próximos anos. No nosso setor, especificamente, a análise vai muito de cada estado, de cada região e de cada mercado. Cada um vai analisar suas conjunturas locais. A Anicer tem se esforçado em conversas com os sindicatos associados para levantar esses números”, disse Lopes.

De acordo com levantamento realizado em agosto deste ano pela Anicer com os sócios presidentes de sindicatos de cerâmica vermelha, os três sindicatos da Região Centro-Oeste indicaram que o mercado está aquecido. O mercado também segue com números positivos em todos os estados da região Sudeste, com exceção do Rio de Janeiro. Nas regiões Norte e Sul, mais números positivos. Somente a região Nordeste indicou desaquecimento no setor.

O diretor também destacou a necessidade de planejamento da produção. “Temos que estar atentos para trabalhar bem a questão do planejamento da produção para não desvalorizar o nosso produto”, advertiu Lopes. “Também é preciso ficar atento à logística, porque os fretes mudaram de valor, o que causou certa instabilidade no setor. Por isso, cada um tem que fazer seus cálculos e analisar direitinho”.

Outro problema pontuado por Lopes foi a concorrência de outros sistemas construtivos que vêm ganhando espaço no mercado. “Por isso é tão importante estarmos fortes e unidos através de órgãos como a Anicer e adequados às normas vigentes por meio da participação em programas setoriais como o PSQ, que aumentam a qualidade dos nossos produtos e nos fazem mais competitivos”, concluiu.

Para o presidente da Anfamec, 2022 será um ano de estabilidade para toda a rede, de fornecedores a clientes. “Assim como a maioria dos setores da indústria, ainda sentiremos a falta de mão de obra qualificada. Então nosso desafio é despertar o interesse dos jovens e prepará-los para o setor”, disse. Bertan também acredita que os investimentos nas cerâmicas devam continuar e declarou ainda haver muita carência de tecnologia no setor e necessidade de renovação de máquinas ultrapassadas.

Para melhorar o cenário de 2022, a Anicer vem trabalhando no desenvolvimento de duas propostas em parceria com o Ministério do Desenvolvimento Regional (MDR). A primeira prevê o aumento do valor do financiamento dos imóveis pela Caixa Econômica Federal (CEF) de 80% para 90% nas tabelas SAC e Price. A medida, se aprovada, valerá para financiamentos com renda entre R$ 2 mil e R$ 7 mil. A segunda é para que a CEF reveja o percentual de endividamento do cliente, que caiu de 30% para 24% sobre a renda. De acordo com Lopes, as perdas com a redução desse percentual de endividamento são maiores do que os benefícios. “Essa é uma mudança essencial para o acesso à casa própria pela população de baixa renda”, alertou o diretor.

Carlos Cruz é jornalista na Anicer.

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