Por Antônio Pimenta | Imagem: Antônio Pimenta
O conteúdo deste artigo não necessariamente reflete a opinião da Anicer e é de responsabilidade de seu autor.
O ano de 2020 começou com expectativa otimista do setor da construção civil, até surgir a pandemia do novo coronavírus – a COVID-19. Em um primeiro momento, a quarentena assustou e as previsões para o setor da cerâmica vermelha foram as piores possíveis, porém ocorreu o contrário: a produção e as vendas aumentaram surpreendentemente. Mas como aconteceu isso e até quando se manterá esse cenário? Duas perguntas de difíceis respostas.
Dados da CBIC e do IBGE indicaram uma queda da construção civil de 2014 até 2018, começando uma recuperação em 2019 e que propiciou o lançamento de inúmeros projetos em 2020, porém o mundo foi surpreendido pela pandemia no início deste ano que avançou da China à Europa e chegou às Américas. No Brasil, os primeiros casos de contaminação ocorreram em fevereiro e rapidamente se alastraram levando à quarentena a partir de março.
A exemplo da maioria das atividades econômicas no Brasil, no setor da construção, e em especial da cerâmica vermelha, eventos foram cancelados ou adiados (Feicon, Anfamec), reuniões desmarcadas, assembleias adiadas, funcionários demitidos, colocados em home office, muitos com redução de carga horária e salário, férias foram concedidas e em algumas indústrias a produção foi paralisada (por pouco tempo).
Nesse primeiro momento, as indústrias de cerâmica vermelha temendo o pior, suspenderam seus investimentos, porém as vendas aumentaram e chegaram a um nível superior ao da pré-pandemia. Produtos cerâmicos começaram a faltar para atender à demanda e havendo uma recuperação nos preços de venda, algo que não acontecia há anos. Este aquecimento nas vendas pode ser observado em quase todas as regiões do país, com exceções pontuais. Mas como?!
Produtos cerâmicos começaram a faltar para atender à demanda e havendo uma recuperação nos preços de venda, algo que não acontecia há anos.
O que pode explicar o aumento das vendas e preços dos materiais de cerâmica vermelha nesses últimos quatro meses? Os empresários do setor foram surpreendidos, pois era algo não esperado e talvez a principal pergunta é: até quando ficará assim?
Analisando dados e conversando com empresários, podemos tentar justificar este cenário com algumas observações:
- Demanda reprimida: a necessidade de construções é clara, desde o saneamento, infraestrutura até a habitação. Com o recuo de 50% da construção no período de 2009 a 2018 (sim, em 2018 o PIB da construção civil no Brasil foi o mesmo de 2009, um tremendo recuo) e o início da recuperação da economia em 2019, a construção tinha boas perspectivas para 2020 e assim começamos o ano, cheios de esperança. A exceção de alguns estados que proibiram atividades da construção durante a pandemia, a grande maioria permitiu e assim as construções não só se mantiveram como aumentaram.
- Redirecionamento de recursos: com a pandemia, boa parte da população saiu das ruas, cancelou gastos com praticamente todas atividades de turismo, compras em shoppings ou comércio de rua, compra de automóveis, vestuário, shows e eventos em geral, entre outros. Sobraram tempo e recursos para terminar aquela reforma, o “puchadinho”, a casa de campo, a churrasqueira. O mercado da autoconstrução imobiliária ainda é a principal fatia da utilização dos “tijolos seis furos” e telhas cerâmicas. Tempo de investir em imóveis, mesmo que em reformas.
- Os seiscentos reais: a distribuição do auxílio emergencial com as parcelas de R$ 600,00 estão injetando milhões de reais na economia, pagos para quem teve seus rendimentos cancelados e até para quem nunca trabalhou, movimentando a economia como um todo. Alguns imaginam que este foi o principal fator do aquecimento nas vendas de produtos de cerâmica vermelha, mas julga-se que não. As primeiras parcelas de R$ 600,00 começaram a ser distribuídas em abril, quando o aquecimento no mercado já era sentido. Sem dúvida, uma parte dos recursos deste auxílio pode estar sendo direcionada à construção, mas não é o principal. Primeiro a alimentação, o aluguel, a energia elétrica. Aqueles que têm outros rendimentos e recebem estes recursos, podem direcioná-los à construção. Além deste auxílio emergencial, há o saque do FGTS que está contribuindo com o aumento de renda das famílias que direcionam em grande parte ao consumo ou quitação de contas atrasadas, o que ajuda na economia como um todo.
- Linhas de crédito para empresas: inúmeras alternativas foram e continuam sendo colocadas à disposição. Muitas estão sendo utilizadas por empresários da cerâmica vermelha, como a postergação de recolhimento dos tributos, financiamento da folha de pagamento com subsídio federal, complementação de salários, constituição do capital de giro, entre outros. Estes benefícios contribuem para a manutenção de inúmeras atividades superarem o período da pandemia.
- Taxa básica de juros – a SELIC: chegou a um recorde, apenas 2,25% ao ano, reduzindo bastante os rendimentos de aplicações financeiras. Desta forma, o investimento em construção ou aquisição de imóveis, passa a ser mais atraente. Pessoas que utilizam rendimentos de aplicações para pagar aluguel de imóvel, percebem que este é o momento de investir em um imóvel próprio, e isto tende a aquecer ainda mais o mercado da construção civil, que também passou a contar com taxas de financiamento jamais vistas.
O fato é que nos últimos 120 dias, os empresários da cerâmica vermelha passaram de um cenário pessimista a um momento de aumento na produção e vendas, recontratando pessoal, reativando equipamentos para aumento da produção e enfrentando dificuldades para atender tantos pedidos. Ainda assim, há uma preocupação de até quando se estenderá a pandemia e seu reflexo na economia como um todo.
Sem dúvida nenhuma, a construção civil é imprescindível a todos nós e o setor de cerâmica vermelha ainda tem um enorme potencial a ser explorado. Com o fim da quarentena se aproximando e a expectativa de recuperação da economia, mesmo que lenta, deverá manter boas perspectivas para este setor.
Deixe um comentário