Por Carlos Cruz | Foto COP27: Oliver Kornblihtt / Mídia NINJA (CC BY-NC 2.0)
Você já ouviu falar em ‘Soft Power’? Criado na década de 1990 por Joseph Nye, professor de Relações Internacionais na Universidade Harvard, o conceito se refere ao poder de um determinado país em influenciar outras nações através de sua cultura ou valores, ou seja, a capacidade de persuasão sem o uso da força militar ou econômica.
No Brasil, o Soft Power é exercido por meio de seus recursos naturais e sua cultura. Em 2022, o país esteve em 28º lugar no ranking global de Soft Power feito pela consultoria britânica Brand Finance. A atual posição representa um aumento de 7 pontos comparado ao ano anterior e foi a melhor alcançada desde que o ranking começou a ser feito, em 2020.
O Brasil liderou em quase todos os quesitos entre os países da América Latina e Caribe, aparecendo em 8º lugar no quesito Cultura e Patrimônio, em 26º em Mídia e Comunicação e 29º em Negócios e Comércios. Por outro lado, os quesitos Governança e Resposta à Covid-19 deixaram a desejar e foram os únicos em que o país não liderou na América Latina, ficando nas posições 56º e 109º respectivamente. A pesquisa foi feita com 120 países.
Um potencial mal aproveitado
Apesar de ter subido algumas posições no ranking, a avaliação feita por especialistas não é das melhores. Em entrevista à BBC News Brasil, em dezembro de 2022, Nye afirmou que, durante o governo Bolsonaro, o Brasil perdeu muito de seu Soft Power. Um dos principais motivos citados pelo professor foi a negligência com as questões ambientais, fator que pode mudar com o governo Lula, que já discutiu a temática em seus discursos durante o período de transição.
Nye ainda comparou o Brasil de Bolsonaro aos Estados Unidos de Trump. “Uma das razões pelas quais os EUA perderam Soft Power sob Trump foi a retirada do país do Acordo Climático de Paris. E acho que essa mesma agenda é uma das razões pelas quais o Brasil perdeu Soft Power sob Bolsonaro”, analisou durante a entrevista.
E não foi só o norte-americano que percebeu as perdas do Soft Power brasileiro. O cientista político da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ) e coordenador do Laboratório de Estudos da Mídia e Esfera Pública (LEMEP), João Feres Junior, avalia que Bolsonaro não apresentava uma política externa. “Ele meio que abriu mão de ter uma política internacional e de o Brasil ter um papel nas grandes discussões globais, internacionais, acerca de aspectos fundamentais”, afirma o pesquisador.
Feres também traz o meio ambiente como um dos principais temas negligenciados pelo governo Bolsonaro. A expectativa para os próximos anos é que a pauta ganhe mais relevância com a mudança de governo. Segundo Feres, isso fica evidente com a participação de Lula na 27ª edição da Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas (COP 27), no Egito. Na opinião do coordenador, tanto a presença quanto o discurso do novo presidente trazem boas expectativas para o futuro do Soft Power brasileiro.
Mas Feres defende que o Brasil precisa aumentar sua participação nas discussões internacionais, principalmente quando a pauta é o meio ambiente. Já Nye acredita que o discurso de Lula na COP 27 pontuando que o Brasil vai levar a Amazônia a sério mostra que é ‘algo com potencial para restaurar o Soft Power brasileiro’.
Para além das políticas externas
O especialista da UERJ explica que existem duas facetas que devem ser recuperadas no novo governo: a interna e a externa. Quando o assunto são os fatores internos, Feres defende a importância de se retomar a capacidade estatal de intervir em algumas questões, como o combate a queimadas e à mineração ilegal. “Toda essa questão da fiscalização e das políticas públicas internas são fundamentais voltarem a funcionar”, enfatiza.
Já no âmbito das políticas externas, além da preocupação ambiental, o Brasil também precisa voltar a se envolver em outros aspectos, como a questão dos bancos dos BRICS e das negociações em torno das conexões Sul-Sul. Feres acredita que o governo Bolsonaro também abriu mão da integração da América do Sul e que a agenda de Lula deve retomar isso. “Do ponto de vista de Soft Power, a perspectiva é mudar muito”, garante.
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