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“Se nós não cuidarmos do planeta, quem vai cuidar?”

Aos 73 anos de idade e quase 50 como ceramista, José Abílio coleciona memórias de sua trajetória e planos para o futuro de seus negócios

Por Carlos Cruz | Imagens: Anicer e divulgação

Ceramista apaixonado, José Abílio Guimarães Primo é o fundador de uma das cerâmicas pioneiras do Estado de Sergipe, a Cerâmica São José. Localizada em Itabaianinha, município de nascimento do empresário, a fábrica já funciona há cerca de 47 anos. Antes de se tornar ceramista, José Abílio se formou como mecânico de automóveis e trabalhou como caminhoneiro, transportando frutas, tijolos e telhas, que adquiria nas olarias locais para revender em Aracajú, Bahia e Alagoas.

Com o desenvolvimento do país na década de 1970, José Abílio percebeu a necessidade de implementar uma olaria em Itabaianinha. “Havia muita necessidade de material de construção e nós começamos com as olarias manuais, aquelas que faz barro batido no barreiro, transportando no animal, corta com aramezinho as coisas, bota numa forma, bate e fazia o tijolinho”, relembra saudoso.

Com o passar do tempo, o empresário percebeu que os blocos cerâmicos usados em Sergipe vinham com o nome de outros lugares do Brasil. Foi então que, em 1977, o jovem empreendedor percebeu a importância de criar a São José. “Eu disse: por que Sergipe não tinha cerâmica? Fechou uma antiga e existe uma grande necessidade”, comentou.

A cerâmica hoje tem uma filial no município de Capela, a Dois Irmãos, fundada em 1999. Mas para conseguir expandir, a empresa precisou passar por diversas mudanças ao longo do tempo. “Nós tínhamos umas máquinas antigas, do final dos anos 70, 80, e aí fomos aprimorando, comprando máquinas mais modernas, comprando cortador mais moderno, bomba de vácuo mais moderna e fomos mudando conforme o andamento do desenvolvimento do setor”, contou. E os resultados alcançados valeram a pena. “Você tinha uma máquina que produzia 10 mil por dia, hoje você tem uma máquina que faz 100 mil por dia. Era tudo devagar, era tudo menor, não tinha essa disposição toda, não tinha essa tecnologia toda”, destacou.

Atualmente, as duas cerâmicas juntas produzem em torno de 25 mil toneladas de peças por mês, o que deixa o ceramista orgulhoso. E a pretensão é aumentar ainda mais essa quantidade. “Geralmente, o cara que tem uma cerâmica só tem uma unidade da cerâmica, uma máquina só. Eu tenho três conjuntos de máquinas em Itabaianinha, tenho dois nessa cidade chamada Capela, que é daqui a 180 km, na divisa com Alagoas, e instalando o terceiro conjunto lá, que é para produzir 30 mil toneladas por mês”, calcula.

Mais do que produzir muito, os esforços do dono da São José também estão voltados à preservação do meio ambiente. Para isso, a cerâmica conta com diversas iniciativas sustentáveis. “Nós aqui temos filtro para não ter poluentes na atmosfera, temos reservatório de água, temos captação de água, reciclagem de lixo e outros detalhes. O que a gente pode fazer para ajudar o meio ambiente, a gente faz”.

José Abílio se recorda do tempo em que tentaram recuperar as jazidas, para servir de bebedouro para os animais e para criação de peixe. “A gente vai tirando e vai dando utilidade, porque isso tá ajudando o meio ambiente”, conta. E acrescenta: “Se nós não cuidarmos do planeta, quem vai cuidar, né?”

Durante 8 anos, o dono da São José esteve à frente do Sindicato das Indústrias Cerâmicas de Sergipe (Sindicer/SE), entre 2006 e 2014. Ele conta que uma de suas principais bandeiras é a unificação dos produtos em território nacional. “A gente está querendo uniformizar os produtos para não ter uma diversidade dessa, cada Estado faz o que quer, o tamanho que quer. É um trabalho meio demorado, porque o pessoal não vai entender ligeiro, mas com certeza nós vamos simplificar o setor”, reiterou o ceramista.

Esposo da deputada estadual Janier Mota e pai de Felipe Mota e Abílio Filho, José Abílio tem grandes expectativas a respeito do dia em que os filhos assumirão os negócios da família. Atualmente, Felipe trabalha na parte operacional da empresa, enquanto Abílio é o responsável pela parte administrativa. Orgulhoso, o pai aos poucos vai passando o bastão. “Os passos já vão ficando mais curtos e eles vão assumindo o espaço. Uma parte da fábrica já é deles, de fato e de direito”, afirmou.

Com experiência de quase meio século no ramo, o ceramista se considera uma pessoa vocacionada à cerâmica vermelha, tendo buscado o constante aprimoramento no ofício através de cursos, palestras e visitas técnicas. “Conheço o Brasil todo. A maioria das cerâmicas mais importantes do Brasil eu conheço e sou dedicado a esse setor. Já tenho uma estrada meio comprida e graças a Deus deu tudo certo”, comemora. José Abílio tem orgulho de sua trajetória pessoal e da história de sua empresa. “Tem seus percalços, como qualquer indústria tem, mas estamos satisfeitos e com coragem pra seguir a batalha”, conclui entre risadas.

Carlos Cruz é jornalista na Anicer.

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