Hoje é:18 de maio de 2024

Sustentabilidade: a mais nova aliada da construção

Conheça o projeto de prédios verdes, desenvolvido em um curso técnico do Senai de Santa Catarina e que auxilia na capacitação de profissionais

Por Carlos Cruz

Responsável por consumir de 50 a 75% dos recursos naturais, 15% dos recursos hídricos e 40% da energia mundial, o setor da construção civil é a indústria que mais gera resíduos no planeta, emitindo cerca de 30 a 40% de CO2. Os dados do Conselho Brasileiro de Construção Sustentável evidenciam os impactos ambientais resultantes dos serviços e produtos do segmento, que, cada dia mais, busca alternativas sustentáveis para o funcionamento de seus processos.

Projeto Prédio Verde

Um projeto desenvolvido em sala de aula, em um curso técnico do Senai de Santa Catarina, mostrou que é possível aliar construção e sustentabilidade. Os alunos do curso foram desafiados a desenvolver o projeto de um edifício comercial que seguisse os parâmetros de um Prédio Verde, tipo de edificação marcado pela responsabilidade ambiental em sua estrutura e em seus processos. Responsável pela coordenação do projeto, a professora e arquiteta Juliana Fávero reconhece os danos ambientais causados pelo setor da construção civil e reitera a importância de existirem profissionais treinados na área sustentável. “Eu, como professora, queria que eles, além de conhecer formas de aplicar ou executar um projeto sustentável, também aderissem isso quando eles se formassem, para a vida profissional deles”, conta a professora.

O projeto fez parte do trabalho final dos alunos da turma de 2018, que elaboraram propostas individuais, já que, de acordo com a perspectiva de Juliana, o trabalho individual permite que os estudantes adquiram mais conhecimento em comparação aos desenvolvidos em grupo. Segundo Juliana, os alunos tiveram a liberdade de escolher os temas das empresas, mas tudo precisou ser bem estudado. “De início, eles acharam um pouco complicado porque não tinham só que fazer a pesquisa, eles tinham também que aplicar isso no projeto de uma forma detalhada. O projeto já é um pouco mais antigo, a gente não tinha tanta informação e tantos materiais disponíveis”, avalia. Os alunos escolheram temas diversos, que vão desde clínica veterinária e sorveteria à funerária.

Com uma supervisão exigente, a professora conta que nada foi feito de qualquer jeito ou por intuição, tudo precisava ser embasado e levado a sério. “E a questão mesmo é como funcionaria isso no projeto, porque não é você só colocar ali, ‘ah não, eu vou colocar uma placa solar.’ Tá, mas como funciona o cálculo da placa solar? A minha região permite colocar placa solar, o meu caimento do telhado está correto? Não é o simples aplicar, é todo um detalhamento”, explica. A professora brinca dizendo que, enquanto na Europa, os profissionais levam cerca de dois anos só na parte de desenvolvimento de um projeto, os brasileiros querem, em seis meses, projetar e executar.

O trabalho dos alunos levou cerca de um ano até ficar pronto e o projeto arquitetônico também precisou ter uma versão em 3D. “Eu sempre digo: você vende aquilo que os olhos conseguem enxergar. Então, o 3D, pra mim, em questão de projeto, arquitetura, é muito importante em termos de concepção do projeto final, do cliente entender”, defende Juliana.

Ao final, os trabalhos foram impressos e defendidos em uma banca.

Mas qual é a importância desse tipo de iniciativa?

Mais do que um projeto em sala de aula, a chamada Construção Verde (Green Building, do inglês) é uma tendência ambiental que une sustentabilidade, inovação tecnológica e o bem-estar humano. Os prédios com essas características buscam adotar a responsabilidade ambiental desde o início da construção até a finalização da obra e seu funcionamento. Ainda há aqueles que, apesar de não terem sido construídos com essa pegada sustentável, tiveram seus processos adaptados, o que, de acordo com a especialista, é bem mais trabalhoso.

A professora explica que existem várias operações aplicadas nos prédios verdes, como o reaproveitamento da água da chuva para irrigação dos jardins, o sistema de elevador usando o que está mais próximo ou até mesmo o sensoriamento das lâmpadas, poupando energia. Mas para ser classificado legalmente como construção verde, é preciso que o edifício obtenha a certificação ‘Liderança em Energia e Design Ambiental’ (Leadership in Energy and Environmental Design, do inglês), conhecida como LEED. “É como se fosse um ISO, as empresas que tem o ISO, agora os prédios também têm. São certificados de autenticidade de que esses prédios são prédios verdes”, explica a arquiteta.

Mas para que se mantenham sustentáveis, é necessário que as pessoas que frequentam o local também ajam com responsabilidade ambiental. Juliana explica que as boas ideias precisam ser estudadas e tudo deve estar bem preparado, inclusive o entendimento das pessoas que usarão o espaço. “Quando alguém vai morar em um prédio verde ou comprar um prédio verde tem que ter essa orientação, essa educação ambiental”, justifica.

Desafios

Apesar da iniciativa ser uma tendência muito importante para o meio ambiente, ainda existem alguns desafios para a construção de mais prédios com essas características. O alto custo pode ser considerado um dos principais obstáculos na implantação desses edifícios. Estudos mostram que, nos Estados Unidos, as construções verdes podem custar de 1% a 7% a mais que as comuns, enquanto no Brasil, o valor pode variar de 5% a 10% a mais. “Boa parte das pessoas acabam não investindo na parte de sustentabilidade de projetos porque acham que de imediato é um custo mais alto. Realmente ele é, apesar de que, hoje, a gente também tem várias alternativas, mas em termos de dois a três anos, você já tem esse retorno que você investiu. E muitos acabam não aplicando o seu projeto por falta de conhecimento”, explica a arquiteta.

Outro fator que pode ser uma barreira quando o assunto é prédio verde, é a falta de mão de obra especializada. Iniciativas como a desenvolvida em sala de aula contribuem para mudar essa realidade e qualificar os profissionais a pensarem de forma sustentável. “Qual é a ideia? Formar esses profissionais para que tenham conhecimento na área sustentável e todos os itens que você pode implementar, desde reutilizar água, painel de sistema solar, reciclagem de materiais, para que eles também possam oferecer para os seus clientes. Porque sempre digo, às vezes, as pessoas acabam não aplicando em seu projeto por falta de conhecimento. Coisas simples, por exemplo, ‘ah, vou reutilizar a água do chuveiro pro vaso sanitário’. É uma coisa muito simples, mas é uma economia grande, que você faz não só pra ti, mas também para a natureza em geral”, considera.

Os resultados

A coordenadora do projeto do Senai reconhece a importância da valorização de iniciativas sustentáveis. Para ela, tudo começa com a educação e com as práticas básicas, que podem ser feitas no dia a dia. Juliana relembra que as pesquisas mostram que o maior sonho do brasileiro é ter uma casa, o que ela enxerga como uma oportunidade de inovar. “Eu acredito que, se você já tem uma consciência que você pode fazer diferente, optar por uma casa ou um prédio diferenciado, que isso vá contribuir para sociedade ou para o meio ambiente, as pessoas vão querer, as pessoas vão pagar por isso um pouco a mais, só que você tem que conscientizar as pessoas disso, porque não adianta dizer, ‘ah não é um prédio verde’. Mas o que tem esse prédio verde, o que ele faz por mim e pela sociedade?”, argumenta a arquiteta.

Segundo Juliana Fávero, a conscientização ambiental dos profissionais deve começar nas escolas, mas os que já estão no mercado de trabalho também devem buscar o aperfeiçoamento. Ela exemplifica como muitos mestres de obras se negam a fazer determinados trabalhos por serem de gerações antigas e não entenderem do processo de capacitação. “As pessoas querem ir para um caminho mais fácil às vezes. O que é o mais fácil? O mais fácil é o que a gente já sabe e o tradicional né?”, conclui.

Carlos Cruz é jornalista na Anicer.

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